Nos últimos cinco anos, o número de inquéritos instaurados pela Polícia Federal (PF) para apuração de crimes digitais de alta complexidade aumentou nove vezes. Entre 2020 e julho de 2025, foram registrados 192 inquéritos, abrangendo condutas como estelionato digital, fraude eletrônica, invasão de dispositivos, lavagem de dinheiro e sabotagem de serviços.
Em 2020, houve apenas 1 investigação; em 2024, o número subiu para 55, e até julho de 2025 já somam 30 novos casos.
Caso de destaque: Caixa Econômica Federal
No início de julho de 2025, a Caixa Econômica Federal instaurou um gabinete de crise e suspendeu o acesso remoto (VPN) de seus funcionários após um ataque hacker que afetou sistemas ligados à compensação bancária. A medida foi tomada para conter o incidente e evitar novos acessos indevidos, evidenciando a vulnerabilidade até mesmo de grandes instituições financeiras.
Lavagem de dinheiro e delitos financeiros
As apurações envolvendo lavagem de dinheiro mediante uso de tecnologia avançada cresceram de 4 (em 2020) para 12 (em 2024), com 7 casos já registrados em 2025. Os principais polos investigativos estão localizados em São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Bahia.
Modus operandi
- Engenharia social: responsável por aproximadamente 80% dos crimes cibernéticos no Brasil, explorando a manipulação psicológica para obter dados ou vantagens indevidas.
- Acesso indevido e fraude sistêmica: uso de credenciais legítimas obtidas de forma ilícita para acessar sistemas internos de instituições financeiras, permitindo movimentações fraudulentas e ocultação de rastros.
- Ataques de grande porte: ações coordenadas contra sistemas críticos do setor financeiro, como plataformas de pagamentos e contas reservas de instituições, capazes de afetar simultaneamente múltiplos agentes do mercado e gerar prejuízos bilionários.
- Malwares bancários: destaque para o “Grandoreiro”, responsável por 150 mil tentativas de ataque em 45 países, com atuação também no Brasil.
Operações policiais relevantes
O destaque mais recente nas ações da Polícia Federal foi a operação internacional contra o malware bancário “Grandoreiro”, executada em parceria com a Interpol e autoridades de outros países.
- A investigação teve origem após o CaixaBank, da Espanha, identificar movimentações fraudulentas associadas ao software malicioso, com prejuízos estimados em até €110 milhões (aproximadamente R$ 650 milhões).
- O “Grandoreiro” é um trojan bancário desenvolvido no Brasil e disseminado em larga escala, com registros de 150 mil tentativas de ataque em 45 países.
- A operação resultou na prisão de cinco indivíduos no Brasil, cumprimento de 13 mandados de busca e apreensão e apreensão de equipamentos utilizados para desenvolver e distribuir o malware.
- Apesar das prisões e apreensões, o “Grandoreiro” continua ativo e vem sendo constantemente adaptado pelos criminosos para escapar de sistemas de detecção, mantendo-se como ameaça real para instituições financeiras no Brasil e no exterior.
Tendências e riscos emergentes
- Aumento de golpes digitais: em 2024, o país registrou crescimento de 267% nas tentativas de fraude via mensagens falsas, alcançando 588 ataques por minuto.
- Uso de inteligência artificial: deepfakes e áudios sintéticos estão sendo empregados em golpes, especialmente na abertura fraudulenta de contas em fintechs.
- PIX como vetor de fraude: a rapidez das transações favorece a pulverização de valores, dificultando o rastreamento.
Recomendações jurídicas e preventivas
- Implementar programas de compliance digital e treinamentos internos voltados à prevenção de golpes de engenharia social.
- Reforçar políticas de segurança da informação, especialmente em setores financeiros e de tecnologia.
- Monitorar e revisar continuamente os procedimentos de autenticação e verificação de identidade.
- Adotar medidas legais rápidas para bloqueio de valores e preservação de provas em casos de ataque.
Para os sócios-fundadores do escritório DELIVAR DE MATTOS & CASTOR, Rodrigo Castor de Mattos e Analice Castor de Mattos, o cenário revela a necessidade urgente de estratégias jurídicas e técnicas integradas para prevenção, detecção e resposta a crimes digitais. O crescimento exponencial das ocorrências e a persistência de ameaças como o “Grandoreiro” reforçam o papel essencial da assessoria jurídica especializada no suporte a empresas e instituições vulneráveis a essas práticas.
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Fonte: https://neofeed.com.br/poder/exclusivo-crimes-digitais-investigados-pela-pf-crescem-nove-vezes-em-cinco-anos/